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Sete anos atrás, a Polícia Ambiental do Estado de São Paulo iniciou um plano para combater o comércio ilegal de madeira por meio de melhorias na fiscalização. Em 2011, durante uma de suas mais ambiciosas operações de fiscalização, agentes da Polícia Ambiental inspecionaram quase 350 caminhões e mais de 60 serrarias em apenas dois dias. Descobrindo diversas infrações, os agentes emitiram 50 autuações e aplicaram um total de R$2,2 milhões (US$ 1,4 milhões) em multas.

Essa foi a maior operação de inspeção de madeira já realizada no estado – e é notável que tenha sido executada em apenas dois dias. A polícia, entretanto, contava com uma arma secreta – conhecimentos científicos especializados e o programa de anatomia da madeira do Instituto Florestal, responsável por atividades de silvicultura e conservação no Estado de São Paulo.

Uma história da fiscalização da madeira

A Polícia Ambiental do Estado de são Paulo e o Departamento do Meio Ambiente têm uma parceria que já dura diversos anos para melhorar o controle governamental do comércio de madeira.

O programa “Estado de são Paulo, amigo da Amazônia” teve início em 2007, quando uma pesquisadora do Laboratório da Madeira do Instituto Florestal, Dra. Sandra Florsheim, acompanhou a polícia ambiental até pontos de controle para inspeção de madeira. Esses pontos se localizavam ora em rodovias, onde os policiais paravam e inspecionavam todos os caminhões carregando madeira, ora nas próprias serrarias.


Polícia Ambiental do Estado de São Paulo inspecionando caminhão que transporta uma grande quantidade de madeira. Fonte: Dra. Sandra Florsheim/Mongabay.

Florsheim conseguiu identificar o gênero e por vezes até a espécie das madeiras com base somente em sua estrutura anatômica. Quando as informações identificadas não correspondiam às encontradas no documento de declaração correspondente, a polícia emitia um auto de infração, aplicava uma multa e, em alguns casos, confiscava a madeira.

O envolvimento da Dra. Florsheim ajudou no combate ao comércio de madeira ilegal, mas o programa estava longe da escala do problema que buscava enfrentar. Na época, até 70% da madeira brasileira era extraída ilegalmente, e o Estado de São Paulo consumia 15% do total de madeira saída da Amazônia. Fazia-se necessário um aumento das medidas de execução.


Policiais ambientais de São Paulo sendo sendo treinados na utilização de microscópio digital pelo programa de identificação de anatomia de madeira. Doutora Sandra Florsheim falando sobre anatomia de madeira aos policiais ambientais de São Paulo. Fonte: Dra. Sandra Florsheim/Mongabay.

Florsheim dedicou-se a aumentar a eficiência e o escopo do programa, desenvolvendo um método que não necessitasse da presença de peritos em anatomia da madeira em todos os pontos de controle. Ela equipou a polícia com microscópios digitais portáteis que podiam capturar imagens eletrônicas das amostras de madeira e enviá-las por e-mail ao laboratório da pesquisadora. Florsheim e sua equipe de técnicos então utilizavam imagens de referência e sua própria experiência para identificar a madeira, emitir um parecer técnico e enviá-lo de volta à polícia ambiental – um processo que durava apenas 15 minutos e permitia aos agentes da polícia decidir a seguir as ações apropriadas a tomar.



Em 2010, o método já estava em pleno funcionamento, com um custo de operação anual aproximado de apenas R$ 1 milhão (US$ 569.000) (ver gráfico). Para comparação, ao longo dos próximos quarto anos a polícia aplicou multas variando entre R$ 10 milhões (US$ 3,2 milhões) e R$ 27 milhões (US$ 10,2 milhões) por ano, com apreensões de madeira que algumas vezes excediam 5.000 toneladas. Somente o volume de madeira apreendido de serrarias entre 2012 e 2014 correspondeu a aproximadamente 5.600 hectares (aproximadamente 14.000 acres) de floresta.



Fonte: Global Forest Watch.

Até o momento, a Dra. Florsheim treinou mais de 500 agentes da polícia ambiental para utilizar o sistema de identificação, e ela estima que sua equipe tenha processado uma média de 1.500 imagens por mês.

Uma nova era no combate da extração ilegal de madeira

A despeito do sucesso do programa, o governo o cessou em setembro de 2014 por razões de natureza política e devido a cortes de orçamento. O encerramento do programa coincide com quedas no número de inspeções de madeira em estradas e serrarias.

Felizmente, as autoridades alocaram recursos para reiniciar o programa de identificação de madeira em 2016. A renovação do programa chega em bom momento, já que o desflorestamento na Amazônia brasileira continua sendo um grave problema.

Programas como o “Estado de são Paulo, amigo da Amazônia” demonstram como tecnologias potentes podem ser úteis para ajudar a acabar com o comércio de madeira ilegal, e começam a se espalhar para outras regiões. O Laboratório de Produtos de Serviços Florestais (Forest Service Products Laboratory) do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos está desenvolvendo um sistema digital semelhante, chamado de “xylotron”, um derivado da palavra grega “xylo”, que significa “madeira”. O sistema xylotron, que se baseia em identificação rápida de imagens de madeira por computador, poderia simplificar e difundir a identificação anatômica no comércio de madeiras global.

Quando medidas de execução são combinadas com competência científica e inovação tecnológica, o resultado é um processo eficiente e custo-efetivo que beneficia tanto as florestas como os governos locais e nacionais.

Para mais informações sobre o programa de identificação de madeiras de São Paulo, por favor acesse a recente apresentação da Dra. Florsheim realizada no Encontro semianual da Forest Legality Alliance (Aliança de Legalidade Florestal) em janeiro de 2015. Para mais informações sobre o xylotron, por favor acesse a recente apresentação do Dr. Alex Wiedenhoeft, também realizada no Encontro semianual da Forest Legality Alliance.