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Novos dados registrados por satélites enfatizam os desafios de reduzir a perda de florestas em dois dos países de maior área florestal no mundo.

Brasil e Indonésia fizeram grandes esforços para diminuir o desflorestamento em anos recentes mas, em 2014, registraram aumento na perda de árvores, de acordo com novos dados divulgados pelo Global Forest Watch. O índice brasileiro de perda de cobertura florestal aumentou mais de 16% entre 2013 e 2014, enquanto o da Indonésia subiu em 30% durante o mesmo período. Entende-se como perda de cobertura florestal a remoção ou morte das árvores, independente da causa e sem contar um possível novo crescimento.

Entretanto, apesar do aumento, a nova análise mostra que o Brasil e a Indonésia são cade vez menos responsáveis pela perda da cobertura florestal nos trópicos, pois novas regiões como Mekong Basin, na Ásia; Gran Chaco na América do Sul; o oeste da África e Madagascar ganham destaque nesta pauta. Mais de 62% da perda de cobertura florestal nos trópicos em 2014 aconteceu fora do Brasil ou Indonésia, comparado com os 47% registrados em 2001 (leia a análise na íntegra aqui).

Ainda assim, Brasil e Indonésia continuam como regiões importantes, pela extensão de seus territórios e como laboratórios estratégicos de políticas florestais. Vamos investigar seus rumos.

Tendências históricas das florestas do Brasil e da Indonésia

Não são poucos os estudos e notícias que focam nos altos índices de desflorestamento na Indonésia e no Brasil. Estes países abrigaram mais de um terço da área de árvores tropicais em 2000, e representaram quase metade de toda a perda de cobertura de florestas tropicais entre 2001 e 2014.

Indonésia e Brasil também ocupam o sexto e o sétimo lugar na lista de países que mais emitem gases de efeito estufa. A mudança no uso do solo é a principal causa de emissões para estes dois países, que provoca quase 35% do total de emissões no Brasil, e 85% na Indonésia. O combate à mudança climática no mundo vai demandar esforços combinados para diminuir drasticamente o desflorestamento nessas regiões.

Os dois países fizeram acordos ambiciosos para reduzir as emissões, e ambos mostraram quedas promissoras na perda de cobertura florestal até 2013. O aumento sutil desses números em 2014 é frustrante.


Nota: usamos uma media de três anos no gráfico para amortecer incertezas nos dados anuais. Saiba mais aqui.


Foco no Brasil

O Brasil vem sendo aplaudido por apresentar uma queda de 70% no desmatamento da Amazônia desde 2004, atribuída a melhores políticas ambientais e intervenções nas cadeias de fornecimento de carne e soja. No pico dessa queda em 2004, o índice de perda de cobertura florestal do Brasil estava em 3,8 milhões de hectares por ano, uma área do tamanho da Holanda. Desde então, a perda vem diminuindo consideravelmente, com a média de três anos somando cerca de 2,3 milhões de hectares por ano desde 2009. Os dados que registram o aumento recente na perda de cobertura florestal corroboram os dados obtidos pelos sistemas de monitoramento DETER e SAD, controlados pelo governo brasileiro e pela NGO Imazon, respectivamente, o que ratifica o indício de aumento no desflorestamento da Amazônia em 2014.

Curiosamente, nossos dados também indicam que a perda de cobertura florestal fora da Amazônia é cada vez mais responsável pela perda florestal total do país (a Amazônia representa apenas um dos muitos biomas florestais do Brasil). De 2001 a 2007, a perda de cobertura florestal dentro dos biomas brasileiros da Caatinga, do Pantanal, da Mata Atlântica, dos Pampas e do Cerrado somaram cerca de 36% da perda total do país. Entre 2008 e 2014, essas áreas constituiam cerca de 46% das perdas do Brasil. Não dá para afirmar se parte dessa tendência foi provocada pelo aumento da colheita em florestas comerciais dentro da Caatinga, Pantanal, Mata Atlântica, Pampa e Cerrado, onde áreas extensas de florestas e pastos naturais são historicamente substituídas por plantações de árvores para produção de madeira. Mais investigações são necessárias para determinar se a perda de cobertura florestal nessas áreas está acontecendo dentro de fisionomias florestais que ocorrem nestes biomas.

Detectar a mudança da cobertura florestal na Amazônia tem sido cada vez mais difícil. Um estudo recente mostrou que o corte de áreas flroestais até 25 hectares vem se tornando cada vez mais comum, possivelmente como uma tentativa de evitar detecção via satélite. Ao mesmo tempo, dados divulgados pela Imazon há alguns dias mostraram que os alertas de perda de cobertura florestal continuam a aumentar em 2015.



Foco na Indonésia

Em contraste com a tendência decrescente de perda de cobertura florestal no Brasil, a da Indonésia vem aumentando constantemente entre 2001 e 2012. Depois que divulgamos uma queda na perda de cobertura florestal em 2013, conservacionistas e autoridades governamentais tinham esperanças de que os esforços para reduzir o desmatamento estavam registrando resultados positivos. O governo indonésio tem dado passos para melhorar suas políticas florestais, renovando recentemente uma moratória que proíbe novas licenças para desmatar árvores em determinadas florestas primárias e turfeiras. Mais empresas se comprometeram a não desmatar florestas primárias, e nova pesquisa sugere que é viável proteger florestas com poucos custos à economia nacional.

Entretanto, nossos dados mostram que a perda de cobertura florestal aumentou em 2014, tanto no geral como nas ricas florestas primárias da Indonésia, as mais valiosas para biodiversidade e armazenamento de carbono. Riau concentra as maiores perdas, e quase todas acontecem dentro de áreas de concessão, particularmente nas pequenas ilhas de Pulau Rupat, Pulau Padang e Pulau Tebingtinggi.

A nível nacional, dados adicionais de 2015 vão determinar se a tendência de três anos vai se nivelar ou continuar aumentando.



O que o futuro reserva?

Enquanto os novos dados de 2014 forneceram informações importantes sobre a dinâmica de mudanças de cobertura florestal ao redor do mundo, é importante lembrar que só um ano de pesquisa não determina uma tendência. O novo mapa de 2014 sugere que atinger reduções consistentes nos índices de perda de cobertura florestal do Brasil e da Indonésia é um trabalho árduo. O tempo vai dizer se esses países vão conseguir compensar o tempo perdido – e as florestas.



Veja os dados do Global Forest Watch aqui.

Este post é parte de uma série que apresenta novos dados e análises sobre a perda de árvores no mundo. Leia o outro post aqui, ou acompanhe nossas apresentações no próximo Congresso Mundial de Florestas.